terça-feira, 7 de setembro de 2010

DOMÍNIO DA NATUREZA INTERIOR PELO SEXO

É um dos fundamentos da História, que o grau de desenvolvimento dos instrumentos de produção indica o poder da sociedade sobre a natureza, isto é, seu grau de desenvolvimento. Da comunidade primitiva ao homem tecnológico, supomos orgulhosos que a humanidade progrediu maravilhosamente com a invenção das máquinas, dos foguetes espaciais, das bombas de neutrons, dos mísseis intercontinentais, dos computadores. Mas tudo isso é uma visão racionalista que considera o domínio da natureza exterior como um fim. Esse mesmo racionalismo, que deseja conquistar a natureza, é incapaz de entender as contradições íntimas e transcendentais da natureza interior humana. Por outro lado, as mais "atrasadas “ culturas, que vivem em regime de comunidade primitiva, possue maior poder sobre essa natureza interior que todo o aparato tecnológico do homem moderno.
Conseqüentemente, podemos dizer que além de não ter uma cultura milenar como a índia, o Nepal, a China, por exemplo, nossa cultura está voltada para o domínio da natureza exterior pela tecnologia, em prejuízo para com a natureza humana. É tão evidente essa contradição, que a tecnologia tornou possível a destruição do planeta, a poluição está envenenando a biosfera. Calejados pela mesma idéia racionalista, buscamos entender as realidades transcendentais como os fenômenos da parapsicologia, religiosos e ufológicos, através de pesquisas empíricas.
Não adianta esconder nossa ignorância atrás de máquinas, criar "ciências" para estudar fora, o que vem de dentro da consciência sufocada. Não precisamos de Ufologia, muito menos de Parapsicologia, porque ambas estão atrás de fantasmas. Muito menos de um Deus pessoal, ou um Salvador messiânico, de céu e inferno. Isso tem cheiro de dominação, de controle mental. Precisamos sim, buscar uma ciência do homem que busque dominar a natureza interior. Aquele “conhece a ti mesmo” socrático. Pois conhecendo e dominando a natureza interior, podemos sair da inconsciência, essa falta de lembrança de nós mesmos. É preciso estar em vigília, porque a humanidade está dormindo de olhos abertos. Mas como isso é possível?
ALIMENTAÇÃO E CRUELDADE
Não há nada de novo sob o céu, como nenhuma novidade trarei ao mundo. Os povos da antiguidade deixaram o exemplo de como buscar o domínio da natureza interior através de rituais e disciplinas. Três princípios básicos desenvolvidos desde os tempos mais remotos foram o desenvolvimento da atenção ou percepção: alimentação adequada e a sacralização do Eros . Desses, os mais dolorosos para nós ocidentais, tem sido os dois últimos. Comer apenas vegetais não levará ninguém ao céu. Mas ser vegetariano é um ato voltado para a natureza interior, é pensar no corpo, enriquecendo com uma alimentação limpa e harmoniosa. Veja bem, não comemos só a carne, mas comemos também o medo do boi, todo o terror e angústia do animal no momento de sua morte. Sem falar nos hormônios, remédios e vacinas que os animais recebem. Além disso um matadouro é um antro de magia negra onde as larvas do astral pairam em busca do sangue. É esse o princípio, a idéia do “sacrifício”, na magia dos antigos: alimentar um deus ou deuses, pois a morte de um ser é uma explosão de energia. Isso em qualquer ritual que envolva a morte de humanos ou animais. Desde pequenos somos violentados com esse tipo de alimentação impura e ficamos viciados, o que torna dolorosa a idéia do vegetarianismo.
Esse vício adquirido, comer carne, só foi possível com a descoberta do fogo, pois nem sequer temos dentes apropriados para isso. No livro apócrifo de Enoque, já escrevi antes e repito, são os Anjos Decaídos que se misturam com as filhas dos homens , que ensinam o gosto pela carne e pelo sangue. Somos comedores de carcaças, daí nosso inconsciente interesse por vampiros, porque não percebemos que na verdade somos isso mesmo. Vampiros dos animais, que escravizamos, em nome da sobrevivência, da fome.
TRANSMUTAÇÃO NÃO É MUDANÇA
Mais difícil que o vegetarianismo, e nem sequer passa pela idéia, primeiro porque não temos uma cultura milenar, daí não termos também uma cultura do amor. Segundo, porque as religiões ocidentais predominantes desconhecem atualmente qualquer metafísica do sexo que tenha existido nas origens do judaísmo e do cristianismo. Para os antigos da Mesopotâmia, Egito, China e índia, o corpo nunca foi instrumento de pecado ou santidade. O tantrismo hindu, tibetano, o falicismo bíblico, são exemplos diversos, de culturas do amor, em função do domínio de uma natureza interior.
Antes que alguém fique escandalizado, devo lembrar que hoje podemos ver pela televisão os, bailes carnavalescos onde as pessoas se perdem numa embriaguês erótica desenfreada, de uma infrasexualidade eletrizante, desgastante e inútil. Assim, de forma alguma podemos condenar, diante de tanta degradação no Carnaval, que é realmente a “festa da carne", uma herança cultural censurada, uma transcendência do Eros, o festival de Beltane, de Baco e Dionísio, praticada pelos antigos gregos e romanos, vendo nisso perversão, abominação, magia negra, ou satanismo, na maneira de ver do cristianismo medieval.
O respeito pelo corpo desapareceu. Desperdiçamos nossa energia erótica em orgasmos que nos custam sete milhões de espermas, transformando o sexo numa brincadeira de motéis, ou então gerando filhos para a felicidade do nosso ego. Desconhecendo o que seja a transmutação das energias do sexo no nosso corpo. O único poder ,que realmente temos de criar, sem demagogia alguma, é o de gerar filhos, procriar.
Transmutar essas energias criadoras em virtude foi o objeto do Tântra. O sexo leva a luxúria, que embriaga e enlouquece. Mas o sexo também pode levar a transcendência. O simbolismo do gênesis bíblico mostra muito bem essa verdade através das duas serpentes: uma leva a queda e outra que cura. É pelo sexo que o homem vem ao mundo, e a vagina é a porta de iniciação para todos nós, como diz os Evangelhos, estreito e apertado é o caminho que leva a vida.
O ELOHIM CRIADOR
A busca do domínio da natureza interior pelo sexo, entre os povos mais experientes, senhores de uma cultura várias vezes milenar, era na verdade o domínio de si próprio, ampliar o nível de consciência, buscando um crescimento interior. Toda uma metafísica do sexo pode ser elaborada a partir das informações deixadas por eles, que de maneira alguma pode ser comparada com o moderno estudo clinico da sexualidade. Tais informações sobre a transcendência da sexualidade humana pode ser encontrada, de uma maneira dissimulada, é verdade, mas ao alcance de todos, na mitologia hebraica dos livros supostamente escritos pelo lendário Moisés. Na gênese bíblica, o deus criador Elohim aparece como um ser de dupla natureza, isto é, macho e fêmea. O falicismo dos povos antigos da Mesopotâmia, da Palestina, passou para os lendários israelitas que evocam seu deus no plural, mas o consideram um único ser, de dupla natureza, macho e fêmea. Elohim significa "deuses".
Assim, Elohim, criou o primeiro homem a sua imagem e semelhança, macho e fêmea. O primeiro Adão ou geração de seres anteriores ao Homem, era hermafrodita, como seu criador. Mas esse ser primordial foi dividido em dois, essa geração de criaturas humanas, no homem e na mulher. Por isso Eva foi retirada de Adão.
Na mitologia grega encontramos semelhante relato nos diálogos de Platão, no "O Banquete", onde se fala da separação de um ser “andrógino primordial," por causa de sua rebeldia, orgulho e poder. Ambas as mitologias falam da mesma coisa, de uma criatura poderosa que se separou em duas, no homem e na mulher.
Essa monstruosa e poderosa criatura hermofrodita do Gênesis, que era a imagem de seu criador, teria passado por uma ruptura da qual surgiu a mulher. A explicação mítica nos diz que até hoje a mulher traz um sinal dessa ruptura no seu sangramento mensal, proveniente da ferida ainda fresca dessa separação dos sexos. Durante sua primeira conjunção carnal, a mulher lacera o hímen, a membrana que tenta saturar esse ferimento primordial.
Não está no homem ou na mulher, o poder de criar, mas com aquela criatura andrógina que transformam-se pelo ato sexual. O coito restabelece, evoca esse ser múltiplo e monstruoso, único capaz de criar como os deuses. Unidos pelo sexo, o homem e a mulher transformam-se num Elohim criador. Temos portanto, uma visão sexual da divindade na gênese de Moisés, presente também em diversas passagens, como por exemplo , quando Jacó erigiu a matzebah, uma coluna fálica, e ungiu com óleo. Postes ou colunas fálicas estão presentes não só na Palestina , Fenícia, Índia, mas em diversas partes do mundo. Derramar leite e mel, óleos aromáticos, sobre falos de pedra, são rituais que ainda existe até hoje na Índia e no Nepal. O juramento dos patriarcas bíblicos era feito pondo a mão sobre a "coxa", o dissimulado ou censurado, órgão criador masculino. O caráter sexual da religião dos antigos hebreus, que eram descendentes dos magos da Caldéia, Abrão era caldeu, provavelmente um mago, é a exigência da mutilação parcial do falo, do pênis, a chamada "circuncisão", oferecida a divindade.
Pode parecer obsceno hoje, o culto fálico dissimulado pelos sacerdotes de Israel, e até seja negado pelos herdeiros de tais tradições ou mitologias. Também os hindus de hoje não sabem explicar os suntuosos templos enfeitados com esculturas praticando sexo. Não tenho por objetivo escandalizar, mas situar o sexo dentro das potencialidades, da interpretação que os antigos lhe dava, demonstração visível até hoje ainda registrada nesses templos eróticos da índia e do Nepal. Pois independente de qualquer visão esclarecedora do sexo, nos colocamos ao nível dos animais chamando de amor ao sexo, a "vontade da espécie", como dizia Schopenhuer, que tem por fim apenas a procriação. O interesse da espécie visa apenas a reprodução e perpetuação da raça, tendo por armadilha o prazer momentâneo do orgasmo, enganado por representações românticas, delírios de paixão, com a ajuda das novelas da Televisão, do cinema, das letras melosas das músicas de hoje em dia, e todas as formas de consumo e alienação . E porque não encarar a sexual idade como um poder, como os antigos, e como tal, transcendente? A reprodução sem sentido transformou a humanidade em bilhões de loucos correndo para o suicido global, pelo esgotamento dos recursos naturais.
TANTRISMO É RELIGIÃO
Sendo o sexo capaz de proporcionar energias vitais, dominar a sexualidade era buscar dominar aquela natureza interior que está esquecida ou adormecida pela inconsciência. Dominar para modificar, “transmutar” era o objetivo da cultura tântrica do amor. Interiorizar as energias sexuais pela alquimia do amor, trabalhando o corpo para gerar mudanças interiores, no psiquismo. Esse processo de alquimia sexual é que chamamos de "transmutação". Ser casto, praticar a abstenção sexual como faziam os eremitas e os iogues da índia, e os primeiros padres do Cristianismo, tinha por fim a transmutação das energias sexuais. Também o casal tântrico faz amor ritual com o mesmo objetivo, evitando o desperdício no orgasmo, canalizando essas energias para o corpo sutil que os asiáticos acreditam que temos. O despertar das percepções extra-sensoriais se dão pelo desenvolvimento do corpo etérico, o mesmo que abandona o corpo durante o sono. Tal corpo segundo o tantrismo, possui na região da coluna vertebral, sete centros energéticos chamados charkras, as “sete Igrejas” , que estão atrofiados e precisam ser desenvolvidos, postos em funcionamento.
Como se todo o nosso potencial estivesse adormecido, precisamos ampliar e canalizar através dos charkras, da última vértebra da coluna até o alto da cabeça, essas energias sexuais que despertarão Kundalini, como simbolicamente chamam essa potência. Essa foi a serpente que caiu e que deve ser levantada no deserto da existência humana, no dizer dos livros de Moisés. Kundalini é a serpente que cura
Fazer amor com adoração, com a esposa sacerdotisa , procurar transmutar a energia cega da vontade da espécie, dominando o corpo, é menos obsceno que a política dos abortos, das orgias carnavalescas, da masturbação homossexual, pois não relação sexual com indivíduos do mesmo sexo , da prostituição mercenária, das clínicas de aborto, da fome pela ignorância. É procurar o domínio da natureza interior, aquela busca por si mesmo, entrar num estado de vigília.
EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO
Explorar o universo interior não é uma expressão intelectual, mas bem prática, pragmática mesmo. Não é figura de linguagem, e sim objetividade. O corpo deve ser conhecido e desenvolvido, para tornar-se ele mesmo uma porta para o infinito, um portal. Não me refiro as academias, da modelação física, busca da saúde, da beleza simétrica das formas, o combate a velhice . Houve uma inversão de valores ao longo da Antiguidade até os nossos dias, pois hoje se busca ou imagina, uma divindade fora do homem, que é a concepção cristã de Deus.
Não era assim que se imaginava e cultivava a divindade nas grandes civilizações do passado, mas através do próprio homem. Todas as religiões do Oriente antigo eram voltadas para a transcendência sexual . Ishtar na Mesopotâmia, Isis no Egito, Kali na índia, as Valkirias germânicas, Afrodite e Vênus, dos gregos e romanos, e até as Huris do Alcorão, que vão servir aos homens no Paraíso muçulmano, eram as grandes deusas virgens prostitutas que demonstram esse caráter sexual nos ritos religiosos.
O falo perdido de Osíris é o grande mistério oculto pelo véu de Isis, que era o sexo, demonstra claramente o tantrismo egípcio. Levantar o vestuário feminino, isto é, o véu de Isis entre os antigos egípcios e gregos, era algo que inspirava terror e respeito. Na nudez da mulher estava o mistério da força mágica da fertilidade, do ato criador divino. Daí a razão do temor diante da visão do sexo feminino. Ocultar o corpo da mulher não é uma questão de dominação masculina, moral ou ciúme. Por isso ele deve ser ocultado pelo vestuário, escondido devido essa veneração. Você não acha estranho essa palavra “venerar”, esteja ligada a significação também sexual?
Não é a beleza do corpo feminino que atrai o macho, como os modernos pensam, e até mesmo as narcisistas possam acreditar, pois nada há de belo na aparência do sexo oculto da fêmea. Seu exterior se assemelha a um corte, uma abertura, e grotescamente parecido com uma ferida que sangra mensalmente. A razão do culto pelo corpo da mulher não era a beleza mas o mistério que ele transmite. É o fascínio e não a beleza o que atraí o macho. No amor o falo penetra do mundo conhecido para o desconhecido, pois estreito e apertado é o caminho para a vida.
Prova dessa adoração pela nudez, temos na época da decadência das religiões sexuais, na Idade Média, quando o Cristianismo se afirmava como religião de estado, o que sobrou do Império Romano, na famosa "missa negra” que era realizada tendo por altar o corpo despido de uma mulher. Para a Igreja medieval era uma abominação satânica.
Uma pergunta que está no ar é a razão do desaparecimento de tais práticas, já que elas parecem tão boas. Primeiro, existe dois aspectos na transcendência sexual simbolizados na serpente de bronze de Moisés, que deve ser levantada no deserto da vida, e a serpente de Eden, portadora do desejo. Ambas representam a Kundaliní nos seus aspectos de elevada e caída. Predominando a serpente tentadora, o homem cai na decadência, nos desregramentos e perversões, pois a luxúria enlouquece. Portanto, a grande ciência dos magos da Mesopotâmia, isto é, dos Caldeus, Egito e Palestina, caíram na degeneração.
Segundo, assim como numa civilização tecnológica como a nossa não significa que a maioria seja de técnicos e engenheiros, pois até um canibal pode aprender a manusear uma metralhadora, usar um celular ou um computador, até crianças. Os magos do passado não elevaram o nível de consciência daquelas sociedades. A magia não era e não foi responsável pelas riquezas da Babilônia, o esplendor do Egito, os belos templos da Índia, a riqueza do Império Romano, mas sim a violência, o trabalho escravo. Assim como as riquezas das sociedades capitalistas vem da acumulação do capital, fruto da espoliação do Novo Mundo, e do trabalho assalariado. É difícil ficar rico sem dar “pernadas” nos outros.
Os Vedas não fizeram da Índia uma cultura que possa servir de modelo. Ao contrário, é uma sociedade em franca involução e miséria, que adotou o capitalismo europeu colonizador. Como a tecnologia toda maravilhosa está levando o ocidente para a involução da mesma maneira, gerando miséria, e vazio existencial. Mas a decadência das religiões do passado, com a predominância de Kundalini invertida, bem como a apropriação e interpretação dos Vedas por uma classe dominante na Índia, e o mal uso da tecnologia no Ocidente, não significa a invalidade, dos mesmos. É preciso o desenvolvimento integral do homem, e isto significa mudar, subir peias costas de Satã, negar as paixões, essa busca e amor pela riqueza e poder, os apegos do Ego, esse romantismo que leva homens e mulheres se matarem em nome do “amor”. Só assim, acredito, ser possível adquirir o conhecimento de outras realidades, mundos internos, vidas paralelas no absoluto. Edificando o templo no próprio corpo, objeto de pesquisa.
As tradições dizem que a pedra fundamental do templo, que foi rejeitada, é o Sexo.

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