skip to main |
skip to sidebar
Foi na faculdade que pela primeira vez ouvi falar da “Erva do Diabo”, de Carlos Castaneda , no final da década de setenta . Nessa época tinha lido um livro muito importante para toda uma geração: “O Despertar dos Mágicos”, que se completaria com “O Livro dos Danados”, de Charles Fort, precursor de todo esse movimento de procura de sentido das coisas da Natureza, e também de descoberta, desconfiança da racionalidade, que tomou conta do mundo depois da Revolução Francesa, e com a Revolução Industrial. Houve no Brasil, nos Estados Unidos, e na Europa, uma onda de dúvida e incertezas do tipo, “estamos sós no Universo?”, surgindo o que ficou conhecido como “Ufologia”, e “Realismo Fantástico”. Por muito tempo passei a observar os céus e buscar informações em jornais, revistas, livros, na TV, sobre “discos voadores”, e fenômenos estranhos e desconcertantes, coincidências absurdas. Mas, foi com Castaneda, e nos livros de Teosofia, na literatura esotérica, já formado em Filosofia, e depois de passar e analisar várias experiências pessoais, como o “falso despertar”, “projeções da consciência”, e beber o chá da União do Vegetal, mais recentemente, que encontrei uma profundidade muito maior que a busca de extraterrestres, de Ets, e Ufos.
Sem dúvida alguma a obra literária do antropólogo americano, já falecido, Carlos Castaneda, aprendiz de feiticeiro do velho Xamã tolteca Dom Juan Matos, traz uma contribuição importante através de seus livros, para a elucidação de uma metafísica esquecida, de um tempo que a humanidade também esqueceu. Toda a literatura chamada "ocultista", ou “esotérica”, tenta repassar conhecimentos estranhos, cabalísticos, e de certa maneira incompreensíveis, exatamente por falta de um fio condutor entre o pensamento místico de uma civilização desaparecida e a nossa, cristã e racionalista ocidental.
De todas as maneiras se buscou enterrar no esquecimento o mundo dos magos pré-cristãos, como relata o romântico "Brumas de Avalon", da escritora Marion Zimmer Bradley, que mostra a vitória do Cristianismo sobre as antigas religiões nas ilhas britânicas. Infelizmente a força civilizadora trazida pelos padres esmagou as fontes de informação, destruiu monumentos e templos, assimilou rituais, desfigurados, em roupagens cristãs como o Natal e as Fogueiras de São João, antigo ritual de um deus esquecido. Mas o pior de tudo foi ter favorecido o surgimento de uma cultura racionalista caolha, ignorante de si mesma. Conseqüentemente, passamos a viver sobressaltados num mundo misterioso e mal assombrado por deuses, diabos, almas, discos voadores, ETs, vampiros e políticos corruptos.Como o Cristianismo não tornou o mundo melhor em dois mil anos, hoje os ateus são as pessoas mais sensatas no mundo contemporâneo, por que não acreditam num Deus pessoal, Onipresente e Bondoso.
Daí se faz necessário uma arqueologia do pensamento mágico tornado marginal, oculto, isto é,“ ocultista”. Pela castração cristã na Idade Média. Pessoas como Gurdjieff, Dion Fortune, Helena Blavatsky, Gerard Encausse, Eliphas Levi, Guaita, Fulcanelly, Lobsang Rampa, esse último um suposto monge tibetano tão polêmico quanto Castaneda e seu benfeitor Dom Juan. São rastreadores do mundo da feitiçaria e dos Antigos Videntes, dos Magos da Mesopotâmia, do Egito. O que eles possuem em comum é a fome de elucidar a metafísica dos nossos antepassados, de outras humanidades, que tiveram uma intimidade maior com o mundo, mas que desapareceram tragicamente, ou ate mesmo naturalmente.
O ponto de encontro do universo mítico descrito por Castaneda, com outras cosmovisões ocultistas, é exatamente a totalidade do Ser na explicação dos feiticeiros pré-colombianos, magos que viveram num passado remoto. A grande descoberta feita pelos antigos videntes foi o domínio da consciência e de que a razão da nossa existência e de todos os seres, é o desenvolvimento e sobrevivência dessa consciência.
Que os seres humanos , na visão dos feiticeiros, são divididos em dois lados, o direito que é o Tonal, englobando tudo o que o intelecto pode conceber, e o lado esquerdo chamado Nagual, que é um reino de aspectos indescritíveis, algo impossível de ser compreendido com palavras, mas que é manipulado criminosamente, por espertalhões na produção de "milagres", e curas. Seitas evangélicas que lotam o Macaranã fazendo “terapia de grupo” com pessoas desesperadas, prometendo prosperidade e salvação, em nome de Jesus Cristo, promovido de Filho de Deus, no próprio Senhor Deus . Em nome da Fé cega, arrecadam sacos de dinheiro. O Nagual é o lado misterioso, divino e poderoso da consciência, que produz e torna possível esses milagres.
A RAZÃO É O TONAL
"O tonal é tudo o que somos e tudo o que conhecemos. É tudo o que sabemos, nós e o mundo. Isso porque ele é o grande organizador, que dá ordem ao caos do mundo. Tudo quanto sabemos e fazemos, como homens, é obra do tonal". Em outras palavras, é a consciência racionalista, o reino da Razão. Nossa civilização atual está sendo dominada quase exclusivamente pelo tonal. O problema é que o tonal se parece muito com uma ilha, isto é, limitado por todos os lados. "Não pode criar nem modificar coisa alguma, e no entanto faz uma representação do mundo porque sua função é julgar, avaliar e testemunhar". Daí a impossibilidade de buscar entender os mistérios da existência pela Razão, pelo tonal.
Por sua vez, o Nagual "é a parte de nós com a qual não lidamos de todo. Quando nascemos e por um certo tempo somos todos nagual. Depois é que aparece o tonal, como necessidade e complemento para podermos funcionar. E o tonal acaba por dominar o nagual e nos tornamos completamente tonal. Mas é o Nagual que tem consciência e sabe de tudo". Nele estão contidas as duas memórias, todas as respostas.
Na visão da feitiçaria deve-se apreender o mundo e não buscar entender racionalmente, como fazemos hoje. Isso é obra do tonal. Talvez por esse motivo Carlos Castaneda abandona a preocupação cronológica a partir do quarto livro em diante, deixando de ser racionalista. Também as plantas de poder ficam em segundo plano, deixam de ser importante, porque o uso delas foi um dos tantos processos usados pela humanidade antiga para conhecer o mundo, alterando ou intensificando a consciência. Mas sempre usadas na forma de rituais e jamais banalizada como fazem os viciados em drogas. O papel dos alucinógenos no aprendizado de Castaneda,com Dom Juan, era permitir o contato com seu Nagual, o mais profundo da sua consciência. Só depois de muitos anos é que compreendeu que tinha na verdade dois mestres ou benfeitores, Dom Juan que lidava com seu lado Tonal e Dom Genaro, que trabalhava com seu lado Nagual.
Durante mais de dez anos teve um aprendizado dirigido para o autocontrole da segunda atenção dominada peio Nagual. Esse nível intensificado da consciência é um estado de elevada conscientização do lado esquerdo, em oposição ao lado direito, representando o nosso normal, o tonal. Primeiro o feiticeiro Dom Juan usou alucinógenos, as plantas de poder, como o mescalito, para chegar a percepção do nagual, e conseqüentemente a segunda atenção, que ele chamava o lado esquerdo da consciência. Num momento mais avançado abandonou o uso das plantas e partiu para técnicas como a “arte de sonhar", "espreitar", num desenvolvimento natural dessa segunda atenção. O que de certa maneira pode ser, grotescamente , o que fazemos em técnicas de observação para projeções da consciência.
Q PRESENTE DA ÁGUIA
Todas as religiões e qualquer escola ocultista, busca organizar o “outro mundo", isto é, um sistema de representações, cosmovisão, que passa a ser "a verdade absoluta" para seus adeptos ou seguidores. Os cristãos católicos e evangélicos protestantes, de uma maneira geral, por exemplo, acreditam na existência de um Deus Criador e em Jesus Cristo como seu Filho, algumas seitas idolatram Jesus como o próprio Deus; que existe o céu e o inferno, demônios e o Diabo, responsáveis pelas desgraças humanas, enfim, uma vida eterna após a morte.
Por sua vez, os Gnósticos europeus e Ocultistas, se baseiam na visão de que somos criaturas sem alma, mas com uma somatória de egos que ofuscam nossa verdadeira centelha divina, eu diria, o nagual da feitiçaria... Daí eles partem para a construção de um corpo solar, pela transmutação, adotando uma psicologia revolucionária , o “trabalho”, para eliminar os egos. Não construir essa alma, esse corpo solar, implica em passar pela segunda morte.
Já a fórmula indiana do Movimento Hare Krishna, várias vezes milenar, tudo está centralizado na certeza de que somos criaturas presas num sistema de retorno constante, de acordo com o Karma. As vezes nascemos nos sistemas planetários superiores, como semideuses, e outras nascemos como gatos e cachorros, ou vermes no excremento. Nossa única maneira de parar esse ciclo é atingir o nível de consciência divina, ou de Krishna. Para isso fazem uma meditação permanente de adoração, repetindo milhares de vezes por dia , o mantra Hare Krishna, onde cantam o nome de Deus. Assim o bakta lembrará de Krishna no momento de sua morte, e isso o libertará do renascimento..
Na organização do mundo da feitiçaria de Dom Juan, descrita por Castaneda, aparece a auto-estima como um monstro de mil cabeças, egomania um tirano real que "priva o homem o seu poder". O poder que governa o destino de todos os seres vivos é uma Águia Negra incomensurável do tamanho do infinito. É a fonte criadora de todos os seres sencientes, para que estes vivam e enriqueçam a consciência. Por outro lado, a Águia devora essa consciência enriquecida depois que ela é abandonada no momento da morte dos seres.
Todos, inclusive os humanos, vivem para alimentar esse ser criador, que está constantemente devorando a consciência de todas as criaturas já mortas, flutuando em direção ao seu bico para a segunda morte. Acontece que ela concede um presente a cada um desses seres: se manter sua chama de consciência terá a oportunidade de escapar e encontrar a liberdade.
Essa alegoria da Águia, pois na verdade o que existe é algo que nenhuma criatura viva pode compreender,o Absoluto, também está presente nos mitos dos índios brasileiros do Xingu, onde se diz que os mortos devem escapar dos pássaros e do Gavião devorador de almas. Assim, o objeto metafísico do feiticeiro. é manter a chama da sua consciência para não ser consumido numa segunda morte, isto é, ser devorado pelo ser criador, seja Deus ou o Absoluto, a Águia Negra ou o Grande Gavião. Sobreviver é o presente da Águia.
Daí, toda a metafísica dos feiticeiros se assemelha ao que dizem os ocultistas como Gurdjieff, os Gnósticos antigos, que não temos alma, mas que precisamos construir uma consciência permanente, alerta e desperta, capaz de evitar a dissolução, a segunda morte, ser devorado pelo grande" abismo cósmico”. É interessante que essa idéia apareça também nas conclusões de Robert A. Monroe, em suas "Viagens além do Universo", em corpo astral ou projeções da consciência.
Segundo ele, Monroe, somos plantações de Móbiles produtores de "lush", uma substância alimentar rara e apreciada no Universo por criaturas que nos cultivam. Isso não é tão aterrador, visto que fazemos o tempo todo esse tipo de coisa, criamos os animais para devorá-los, e na verdade não somos melhores que eles.
Mas o que importa é tentar desvendar o mistério da existência, fazer uma arqueologia dos sistemas místicos de outras humanidades, de outras culturas como a das nações de pindorama , o Brasil pré-português, os Incas, Maias, a tolteca revista por Carlos Castaneda.
É um dos fundamentos da História, que o grau de desenvolvimento dos instrumentos de produção indica o poder da sociedade sobre a natureza, isto é, seu grau de desenvolvimento. Da comunidade primitiva ao homem tecnológico, supomos orgulhosos que a humanidade progrediu maravilhosamente com a invenção das máquinas, dos foguetes espaciais, das bombas de neutrons, dos mísseis intercontinentais, dos computadores. Mas tudo isso é uma visão racionalista que considera o domínio da natureza exterior como um fim. Esse mesmo racionalismo, que deseja conquistar a natureza, é incapaz de entender as contradições íntimas e transcendentais da natureza interior humana. Por outro lado, as mais "atrasadas “ culturas, que vivem em regime de comunidade primitiva, possue maior poder sobre essa natureza interior que todo o aparato tecnológico do homem moderno.
Conseqüentemente, podemos dizer que além de não ter uma cultura milenar como a índia, o Nepal, a China, por exemplo, nossa cultura está voltada para o domínio da natureza exterior pela tecnologia, em prejuízo para com a natureza humana. É tão evidente essa contradição, que a tecnologia tornou possível a destruição do planeta, a poluição está envenenando a biosfera. Calejados pela mesma idéia racionalista, buscamos entender as realidades transcendentais como os fenômenos da parapsicologia, religiosos e ufológicos, através de pesquisas empíricas.
Não adianta esconder nossa ignorância atrás de máquinas, criar "ciências" para estudar fora, o que vem de dentro da consciência sufocada. Não precisamos de Ufologia, muito menos de Parapsicologia, porque ambas estão atrás de fantasmas. Muito menos de um Deus pessoal, ou um Salvador messiânico, de céu e inferno. Isso tem cheiro de dominação, de controle mental. Precisamos sim, buscar uma ciência do homem que busque dominar a natureza interior. Aquele “conhece a ti mesmo” socrático. Pois conhecendo e dominando a natureza interior, podemos sair da inconsciência, essa falta de lembrança de nós mesmos. É preciso estar em vigília, porque a humanidade está dormindo de olhos abertos. Mas como isso é possível?
ALIMENTAÇÃO E CRUELDADE
Não há nada de novo sob o céu, como nenhuma novidade trarei ao mundo. Os povos da antiguidade deixaram o exemplo de como buscar o domínio da natureza interior através de rituais e disciplinas. Três princípios básicos desenvolvidos desde os tempos mais remotos foram o desenvolvimento da atenção ou percepção: alimentação adequada e a sacralização do Eros . Desses, os mais dolorosos para nós ocidentais, tem sido os dois últimos. Comer apenas vegetais não levará ninguém ao céu. Mas ser vegetariano é um ato voltado para a natureza interior, é pensar no corpo, enriquecendo com uma alimentação limpa e harmoniosa. Veja bem, não comemos só a carne, mas comemos também o medo do boi, todo o terror e angústia do animal no momento de sua morte. Sem falar nos hormônios, remédios e vacinas que os animais recebem. Além disso um matadouro é um antro de magia negra onde as larvas do astral pairam em busca do sangue. É esse o princípio, a idéia do “sacrifício”, na magia dos antigos: alimentar um deus ou deuses, pois a morte de um ser é uma explosão de energia. Isso em qualquer ritual que envolva a morte de humanos ou animais. Desde pequenos somos violentados com esse tipo de alimentação impura e ficamos viciados, o que torna dolorosa a idéia do vegetarianismo.
Esse vício adquirido, comer carne, só foi possível com a descoberta do fogo, pois nem sequer temos dentes apropriados para isso. No livro apócrifo de Enoque, já escrevi antes e repito, são os Anjos Decaídos que se misturam com as filhas dos homens , que ensinam o gosto pela carne e pelo sangue. Somos comedores de carcaças, daí nosso inconsciente interesse por vampiros, porque não percebemos que na verdade somos isso mesmo. Vampiros dos animais, que escravizamos, em nome da sobrevivência, da fome.
TRANSMUTAÇÃO NÃO É MUDANÇA
Mais difícil que o vegetarianismo, e nem sequer passa pela idéia, primeiro porque não temos uma cultura milenar, daí não termos também uma cultura do amor. Segundo, porque as religiões ocidentais predominantes desconhecem atualmente qualquer metafísica do sexo que tenha existido nas origens do judaísmo e do cristianismo. Para os antigos da Mesopotâmia, Egito, China e índia, o corpo nunca foi instrumento de pecado ou santidade. O tantrismo hindu, tibetano, o falicismo bíblico, são exemplos diversos, de culturas do amor, em função do domínio de uma natureza interior.
Antes que alguém fique escandalizado, devo lembrar que hoje podemos ver pela televisão os, bailes carnavalescos onde as pessoas se perdem numa embriaguês erótica desenfreada, de uma infrasexualidade eletrizante, desgastante e inútil. Assim, de forma alguma podemos condenar, diante de tanta degradação no Carnaval, que é realmente a “festa da carne", uma herança cultural censurada, uma transcendência do Eros, o festival de Beltane, de Baco e Dionísio, praticada pelos antigos gregos e romanos, vendo nisso perversão, abominação, magia negra, ou satanismo, na maneira de ver do cristianismo medieval.
O respeito pelo corpo desapareceu. Desperdiçamos nossa energia erótica em orgasmos que nos custam sete milhões de espermas, transformando o sexo numa brincadeira de motéis, ou então gerando filhos para a felicidade do nosso ego. Desconhecendo o que seja a transmutação das energias do sexo no nosso corpo. O único poder ,que realmente temos de criar, sem demagogia alguma, é o de gerar filhos, procriar.
Transmutar essas energias criadoras em virtude foi o objeto do Tântra. O sexo leva a luxúria, que embriaga e enlouquece. Mas o sexo também pode levar a transcendência. O simbolismo do gênesis bíblico mostra muito bem essa verdade através das duas serpentes: uma leva a queda e outra que cura. É pelo sexo que o homem vem ao mundo, e a vagina é a porta de iniciação para todos nós, como diz os Evangelhos, estreito e apertado é o caminho que leva a vida.
O ELOHIM CRIADOR
A busca do domínio da natureza interior pelo sexo, entre os povos mais experientes, senhores de uma cultura várias vezes milenar, era na verdade o domínio de si próprio, ampliar o nível de consciência, buscando um crescimento interior. Toda uma metafísica do sexo pode ser elaborada a partir das informações deixadas por eles, que de maneira alguma pode ser comparada com o moderno estudo clinico da sexualidade. Tais informações sobre a transcendência da sexualidade humana pode ser encontrada, de uma maneira dissimulada, é verdade, mas ao alcance de todos, na mitologia hebraica dos livros supostamente escritos pelo lendário Moisés. Na gênese bíblica, o deus criador Elohim aparece como um ser de dupla natureza, isto é, macho e fêmea. O falicismo dos povos antigos da Mesopotâmia, da Palestina, passou para os lendários israelitas que evocam seu deus no plural, mas o consideram um único ser, de dupla natureza, macho e fêmea. Elohim significa "deuses".
Assim, Elohim, criou o primeiro homem a sua imagem e semelhança, macho e fêmea. O primeiro Adão ou geração de seres anteriores ao Homem, era hermafrodita, como seu criador. Mas esse ser primordial foi dividido em dois, essa geração de criaturas humanas, no homem e na mulher. Por isso Eva foi retirada de Adão.
Na mitologia grega encontramos semelhante relato nos diálogos de Platão, no "O Banquete", onde se fala da separação de um ser “andrógino primordial," por causa de sua rebeldia, orgulho e poder. Ambas as mitologias falam da mesma coisa, de uma criatura poderosa que se separou em duas, no homem e na mulher.
Essa monstruosa e poderosa criatura hermofrodita do Gênesis, que era a imagem de seu criador, teria passado por uma ruptura da qual surgiu a mulher. A explicação mítica nos diz que até hoje a mulher traz um sinal dessa ruptura no seu sangramento mensal, proveniente da ferida ainda fresca dessa separação dos sexos. Durante sua primeira conjunção carnal, a mulher lacera o hímen, a membrana que tenta saturar esse ferimento primordial.
Não está no homem ou na mulher, o poder de criar, mas com aquela criatura andrógina que transformam-se pelo ato sexual. O coito restabelece, evoca esse ser múltiplo e monstruoso, único capaz de criar como os deuses. Unidos pelo sexo, o homem e a mulher transformam-se num Elohim criador. Temos portanto, uma visão sexual da divindade na gênese de Moisés, presente também em diversas passagens, como por exemplo , quando Jacó erigiu a matzebah, uma coluna fálica, e ungiu com óleo. Postes ou colunas fálicas estão presentes não só na Palestina , Fenícia, Índia, mas em diversas partes do mundo. Derramar leite e mel, óleos aromáticos, sobre falos de pedra, são rituais que ainda existe até hoje na Índia e no Nepal. O juramento dos patriarcas bíblicos era feito pondo a mão sobre a "coxa", o dissimulado ou censurado, órgão criador masculino. O caráter sexual da religião dos antigos hebreus, que eram descendentes dos magos da Caldéia, Abrão era caldeu, provavelmente um mago, é a exigência da mutilação parcial do falo, do pênis, a chamada "circuncisão", oferecida a divindade.
Pode parecer obsceno hoje, o culto fálico dissimulado pelos sacerdotes de Israel, e até seja negado pelos herdeiros de tais tradições ou mitologias. Também os hindus de hoje não sabem explicar os suntuosos templos enfeitados com esculturas praticando sexo. Não tenho por objetivo escandalizar, mas situar o sexo dentro das potencialidades, da interpretação que os antigos lhe dava, demonstração visível até hoje ainda registrada nesses templos eróticos da índia e do Nepal. Pois independente de qualquer visão esclarecedora do sexo, nos colocamos ao nível dos animais chamando de amor ao sexo, a "vontade da espécie", como dizia Schopenhuer, que tem por fim apenas a procriação. O interesse da espécie visa apenas a reprodução e perpetuação da raça, tendo por armadilha o prazer momentâneo do orgasmo, enganado por representações românticas, delírios de paixão, com a ajuda das novelas da Televisão, do cinema, das letras melosas das músicas de hoje em dia, e todas as formas de consumo e alienação . E porque não encarar a sexual idade como um poder, como os antigos, e como tal, transcendente? A reprodução sem sentido transformou a humanidade em bilhões de loucos correndo para o suicido global, pelo esgotamento dos recursos naturais.
TANTRISMO É RELIGIÃO
Sendo o sexo capaz de proporcionar energias vitais, dominar a sexualidade era buscar dominar aquela natureza interior que está esquecida ou adormecida pela inconsciência. Dominar para modificar, “transmutar” era o objetivo da cultura tântrica do amor. Interiorizar as energias sexuais pela alquimia do amor, trabalhando o corpo para gerar mudanças interiores, no psiquismo. Esse processo de alquimia sexual é que chamamos de "transmutação". Ser casto, praticar a abstenção sexual como faziam os eremitas e os iogues da índia, e os primeiros padres do Cristianismo, tinha por fim a transmutação das energias sexuais. Também o casal tântrico faz amor ritual com o mesmo objetivo, evitando o desperdício no orgasmo, canalizando essas energias para o corpo sutil que os asiáticos acreditam que temos. O despertar das percepções extra-sensoriais se dão pelo desenvolvimento do corpo etérico, o mesmo que abandona o corpo durante o sono. Tal corpo segundo o tantrismo, possui na região da coluna vertebral, sete centros energéticos chamados charkras, as “sete Igrejas” , que estão atrofiados e precisam ser desenvolvidos, postos em funcionamento.
Como se todo o nosso potencial estivesse adormecido, precisamos ampliar e canalizar através dos charkras, da última vértebra da coluna até o alto da cabeça, essas energias sexuais que despertarão Kundalini, como simbolicamente chamam essa potência. Essa foi a serpente que caiu e que deve ser levantada no deserto da existência humana, no dizer dos livros de Moisés. Kundalini é a serpente que cura
Fazer amor com adoração, com a esposa sacerdotisa , procurar transmutar a energia cega da vontade da espécie, dominando o corpo, é menos obsceno que a política dos abortos, das orgias carnavalescas, da masturbação homossexual, pois não relação sexual com indivíduos do mesmo sexo , da prostituição mercenária, das clínicas de aborto, da fome pela ignorância. É procurar o domínio da natureza interior, aquela busca por si mesmo, entrar num estado de vigília.
EVOLUÇÃO E INVOLUÇÃO
Explorar o universo interior não é uma expressão intelectual, mas bem prática, pragmática mesmo. Não é figura de linguagem, e sim objetividade. O corpo deve ser conhecido e desenvolvido, para tornar-se ele mesmo uma porta para o infinito, um portal. Não me refiro as academias, da modelação física, busca da saúde, da beleza simétrica das formas, o combate a velhice . Houve uma inversão de valores ao longo da Antiguidade até os nossos dias, pois hoje se busca ou imagina, uma divindade fora do homem, que é a concepção cristã de Deus.
Não era assim que se imaginava e cultivava a divindade nas grandes civilizações do passado, mas através do próprio homem. Todas as religiões do Oriente antigo eram voltadas para a transcendência sexual . Ishtar na Mesopotâmia, Isis no Egito, Kali na índia, as Valkirias germânicas, Afrodite e Vênus, dos gregos e romanos, e até as Huris do Alcorão, que vão servir aos homens no Paraíso muçulmano, eram as grandes deusas virgens prostitutas que demonstram esse caráter sexual nos ritos religiosos.
O falo perdido de Osíris é o grande mistério oculto pelo véu de Isis, que era o sexo, demonstra claramente o tantrismo egípcio. Levantar o vestuário feminino, isto é, o véu de Isis entre os antigos egípcios e gregos, era algo que inspirava terror e respeito. Na nudez da mulher estava o mistério da força mágica da fertilidade, do ato criador divino. Daí a razão do temor diante da visão do sexo feminino. Ocultar o corpo da mulher não é uma questão de dominação masculina, moral ou ciúme. Por isso ele deve ser ocultado pelo vestuário, escondido devido essa veneração. Você não acha estranho essa palavra “venerar”, esteja ligada a significação também sexual?
Não é a beleza do corpo feminino que atrai o macho, como os modernos pensam, e até mesmo as narcisistas possam acreditar, pois nada há de belo na aparência do sexo oculto da fêmea. Seu exterior se assemelha a um corte, uma abertura, e grotescamente parecido com uma ferida que sangra mensalmente. A razão do culto pelo corpo da mulher não era a beleza mas o mistério que ele transmite. É o fascínio e não a beleza o que atraí o macho. No amor o falo penetra do mundo conhecido para o desconhecido, pois estreito e apertado é o caminho para a vida.
Prova dessa adoração pela nudez, temos na época da decadência das religiões sexuais, na Idade Média, quando o Cristianismo se afirmava como religião de estado, o que sobrou do Império Romano, na famosa "missa negra” que era realizada tendo por altar o corpo despido de uma mulher. Para a Igreja medieval era uma abominação satânica.
Uma pergunta que está no ar é a razão do desaparecimento de tais práticas, já que elas parecem tão boas. Primeiro, existe dois aspectos na transcendência sexual simbolizados na serpente de bronze de Moisés, que deve ser levantada no deserto da vida, e a serpente de Eden, portadora do desejo. Ambas representam a Kundaliní nos seus aspectos de elevada e caída. Predominando a serpente tentadora, o homem cai na decadência, nos desregramentos e perversões, pois a luxúria enlouquece. Portanto, a grande ciência dos magos da Mesopotâmia, isto é, dos Caldeus, Egito e Palestina, caíram na degeneração.
Segundo, assim como numa civilização tecnológica como a nossa não significa que a maioria seja de técnicos e engenheiros, pois até um canibal pode aprender a manusear uma metralhadora, usar um celular ou um computador, até crianças. Os magos do passado não elevaram o nível de consciência daquelas sociedades. A magia não era e não foi responsável pelas riquezas da Babilônia, o esplendor do Egito, os belos templos da Índia, a riqueza do Império Romano, mas sim a violência, o trabalho escravo. Assim como as riquezas das sociedades capitalistas vem da acumulação do capital, fruto da espoliação do Novo Mundo, e do trabalho assalariado. É difícil ficar rico sem dar “pernadas” nos outros.
Os Vedas não fizeram da Índia uma cultura que possa servir de modelo. Ao contrário, é uma sociedade em franca involução e miséria, que adotou o capitalismo europeu colonizador. Como a tecnologia toda maravilhosa está levando o ocidente para a involução da mesma maneira, gerando miséria, e vazio existencial. Mas a decadência das religiões do passado, com a predominância de Kundalini invertida, bem como a apropriação e interpretação dos Vedas por uma classe dominante na Índia, e o mal uso da tecnologia no Ocidente, não significa a invalidade, dos mesmos. É preciso o desenvolvimento integral do homem, e isto significa mudar, subir peias costas de Satã, negar as paixões, essa busca e amor pela riqueza e poder, os apegos do Ego, esse romantismo que leva homens e mulheres se matarem em nome do “amor”. Só assim, acredito, ser possível adquirir o conhecimento de outras realidades, mundos internos, vidas paralelas no absoluto. Edificando o templo no próprio corpo, objeto de pesquisa.
As tradições dizem que a pedra fundamental do templo, que foi rejeitada, é o Sexo.
Em nenhuma outra época da História o poder massificante dos meios de comunicação, nas mãos de sociedades conservadoras, conseguiram com tanto sucesso, a manipulação das consciências, como nos dias atuais. Um poder instrumental que não pode ser negado diante da experiência nazista, que com sucesso conseguiu conduzir multidões judias para os fornos crematórios, enganadas até o ultimo momento. Como os nazistas, hoje se manipula informações falseadas, desde índices falsos de inflação, repressões e torturas nas ditaduras, como o massacre da Praça da Paz Celestial, lá na China, onde os soldados foram colocados na posição dupla de vítimas e heróis , e assim acontece por todo o mundo moderno. Formando opinião e forjando a imagem dos seus políticos, por exemplo, transformam homens medíocres em grandes personalidades, verdadeiros ídolos que parecem aos olhos da grande maioria faminta de tudo, a tábua de salvação.Nossos políticos, defensores de “frascos e comprimidos”.
Assim, somos bombardeados de informações problemáticas, dentro de uma sociedade miserável e corrupta como a nossa, levados a repensar o pseudo drama do comércio e trafico da cocaína, maconha, enfim, de todas as drogas proibidas no mundo civilizado, e se realmente há algo monstruoso e conspirador por trás delas. Afinal, porque a burguesia ocidental não esclarece o motivo de se consumir tanto as plantas de poder, ou alucinógenos, o que os meios de comunicação popularizaram como "DROGA". Porque se combate o vício fazendo descrições das conseqüências terríveis do consumo, sem buscar esclarecer a origem da coisa? Não adianta dizer para o fumante que o seu vício causará câncer, cirrose, impotência, envelhecimento precoce e morte, se por outro lado o cigarro continua sendo oferecido como um produto de prazer, em que as pessoas se divertem fazendo da boca uma fornalha e do nariz uma chaminé.
Por que as indústrias não esclarecem aos seus consumidores como surgiu o hábito de fumar? Fumar é uma coisa que os europeus aprenderam com os índios durante a colonização do Novo Mundo. Acontece que, nas tribos das Américas, fumar não era prazer ou brincadeira, mas sim algo transcendental relacionado com uma prática mística ou religiosa, onde só algumas pessoas podiam fazer durante cerimônias ou rituais. Uma dessas pessoas era o sacerdote, entre nossos índios, o Pajé. O fumo era e ainda é em algumas comunidades do Xingu, veículo embriagador que leva ao transe e facilita o contato com o astral, com as divindades, os devas da Natureza. Devo esclarecer que a indústria capitalista popularizou o tabaco, mas que há uma variedade de ervas e folhas nas diversas culturas. E daí? Fumar é um grande equívoco das sociedades "modernas''.
O Capitalismo, filho da grande acumulação do capital, nutrido com o sangue das civilizações pré-colombianas, assaltadas e dizimadas durante a conquista européia, em nome do “direito divino” outorgado pelo Papa, pelo Tratado de Tordesilhas ,o pejorativo “testamento de Adão”, fez do fumo apenas uma mercadoria de consumo, "um pequeno prazer".
A propaganda de guerra aos tóxicos nos informa que há vinte e três milhões de consumidores de drogas só nos Estados Unidos. Milhões de quilos de cocaína são consumidos por ano, movimentando bilhões de dólares num comercio dominado pelo crime organizado. Esse número de viciados parece assustador, mas não é, como querem nos fazer acreditar.
Ele é bem menor que os duzentos milhões de nascimentos diários no mundo inteiro, e não representa nada diante dos cinco bilhões de loucos que vivem nesse planeta. Hoje as cifras não devem assustar muito, quando milhões morrem de fome, e qualquer terremoto que ocorra em grandes centros urbanos como as grandes cidades norte-americanas, ou Tóquio, São Paulo, Londres, etc, matará muito mais que as 55 mil vítimas da Republica Armênia do ano passado. Inclusive é uma tragédia futura inevitável que nem precisa ser Nostradamus para prever. O que me parece estranho é não se dizer a pleno pulmões, que as drogas , como o cigarro,a cocaína, são produtos inventados pela burguesia internacional, a grande consumidora, como se fossem a mercadoria proibida do prazer.
O que se esconde por trás do tráfico de drogas, é um Terceiro Mundo miserável, espoliado e endividado pelo imperialismo europeu, que oferece ao Mundo Rico, por vingança,por imposição das necessidades, o "tempero do prazer", a mercadoria maldita, o trabalho sujo que eles não querem fazer mais.
MANIQUEÍSMO
A massificação começa quando se passa por cima da história do consumo original, a razão primeira que levou as comunidades primitivas, pré-colombianas e orientais, ao consumo restrito de plantas e ervas de poder, dentro de um contesto religioso, místico, como acontecia com o fumo entre os índios da América, o peiote no Mêxico, a chacrona e o mariri na Amazônia.
O que leva os milhões de viciados da burguesia internacional, e nacional também, ao consumo principalmente da cocaína, por exemplo, é a profunda alienação de que são vítimas, e o transbordante vazio existencial que as religiões modernas deixaram. Fracassaram mesmo. È a promessa do prazer oferecida em forma de “ mercadoria proibida''. Dentro do Capitalismo a droga é um produto caro e valioso no submundo, que enriquece rápido. Essa é a grande contradição. O que em alguma época foi religioso e transcendental, hoje é mercadoria.
Hipócritas maniqueístas, presos na ilusão de uma guerra entre o bem e o mal, entre Deus e o Diabo, convocam as Américas numa guerra total contra as drogas. E se pratica violências contra os vegetais por meio de substâncias químicas e ao mesmo tempo uma cruzada aos centros produtores. Propagandas em todos os meios de comunicação, que só despertam curiosidade e arrepios. Por que o mundo rico não combate o interesse econômico do tráfico, ajudando o terceiro mundo a sair da miséria, perdoando as dívidas externas desses países produtores, pois é difícil se conter coisas mais simples como a miséria e a fome, quanto mais o desejo de enriquecer fácil num mundo pobre e faminto, quando eles mesmos, os países ricos, são os grandes consumidores.
Longe de qualquer interesse na difusão ou repressão, não estou fazendo uma apologia. Isso seria até criminoso. Mas a desinformação é completa sobre a origem das drogas, o seu papel nas culturas primitivas. O consumo é uma grande alienação, uma ignorância profunda, que escraviza ricos e pobres. Os ricos para preencher o vazio existencial deixado pela falta de sentido da vida deixado pelas ciências e pelo Cristianismo. A onda dos meninos pobres, miseráveis, sem pai nem mãe, deserdados da sociedade, é consumir o “superamendoim” do SuperPateta, antes de sair para aprontar: roubar, assaltar, como heróis sem causa, acreditando que a polícia é o verdadeiro bandido, fazendo sucesso com as meninas, também sem futuro.
Especialistas americanos já chegaram a brilhante conclusão de que uma das causas que leva ao consumo e o vício, é o fator genético. Isso me parece completamente alienante, acreditar que as pessoas nasçam com a pré-disposição para o vício da cocaína, da maconha, etc. Por que não esclarecem que a droga não é prazer, e deixam de querer explicar tudo na visão maniqueísta do bem e do mal.
O que a maioria das chamadas' 'drogas'' fazem é exaltar a consciência, "afrouxam os laços da mente", intensifica a consciência, quebrando o lacre do inconsciente, fazendo com que a pessoa mergulhe num abismo alucinante de deslumbramento, e ao mesmo tempo infernal e desastroso. Em outras palavras, a droga faz com violência, o que um místico consegue ao longo de muito trabalho com a consciência. Com uma diferença fundamental, a droga é um estupro e não oferece controle, recompensa ou desenvolvimento para seus adeptos.
A "viagem" dos viciados é uma queda sem pára-quedas, ou uma corrida num veículo sem freio ou direção. Para a experiência mística ocultista, consumir drogas é um ato de magia negra. E seus adeptos, magos negros que buscam tomar o céu de assalto. Mas só terão como recompensa as armadilhas do inferno astral. Viver numa sociedade onde as drogas, instrumentos de alteração da consciência dos rituais religiosos pré-cristãos, foram transformadas em drogas do prazer, do super-poder, que enriquece e gera todo tipo de violência, é recriar o inferno dantesco, é viver no Inferno, de fato.
As cifras, populacionais e consumo são, de 1990.