sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DEUS, DEMIURGO E O ABSOLUTO

Há algumas crenças generalizadas e cultivadas, que demonstram claramente como estamos perdidos, equivocados e iludidos num mundo aparentemente desconhecido, predador e hostil. Aliás, também nós , seres humanos, somos criaturas predadoras e hostis, e não sabemos realmente o que somos na Natureza.Num momento de incertezas para os bilhões de habitantes do planeta, que optaram em viver na competição da selva de fato, para a selva urbana do capitalismo, criando nosso inferno particular, ocupando todos os espaços, derrubando florestas, aterrando e poluindo as águas, matando e exterminando os outros animais, esgotando os recursos naturais. Somos brindados com terremotos, ondas gigantes, chuvas e alagações daqueles lugares que nunca deveriam ter sido ocupados com habitações, como acontece principalmente no Brasil, na Ásia e até mesmo em sociedades ricas do primeiro mundo, na Europa, vitimando os aglomerados urbanos, em sua maioria uma população de baixa renda, o que popularmente chamamos de “pobres”, os deserdados da riqueza acumulada nas mãos de uma minoria burguesa, inconscientemente cruel. Perdemos realmente o sentido das coisas e só resta um grande vazio existencial preenchido com muito circo: futebol, cinema, músicas, novelas, fofocas e shows de religiosidade equivocada, em nome de um Homem-Deus, inventado pelos asiáticos, sumerianos e egípcios com seus Faraós, sacramentado pelo decadente Império Romano,que re-inventaram esse culto.
As crenças equivocadas aparecem ao longo desses dois mil anos de Cristianismo, uma variedade enorme de cultos evangélicos. Bares e templos religiosos nas esquinas, se multiplicam a cada dia, os supermercados da fé oferecendo a salvação, o que acreditam como “reino dos céus”, ou sobrevivência da “alma” ao lado de Deus em algum lugar do Universo, incentivados pelos vendilhões da salvação, ao toque de caixa das ofertas e dízimos. Afinal, no que acreditamos: um Deus criador de tudo, o Universo, as galáxias, um ser Absoluto, ou um Deus pessoas, capaz de ouvir os lamentos de uma humanidade e fazer “milagres” e se preocupar com seres tão mesquinhos e hostis?
A invenção do monoteísmo começa no Egito com um Faraó, que aliás era considerado como um deus vivo, que resolveu adorar o sol, como única divindade. Adorar o sol como divindade foi também uma prática em algumas regiões da Europa, antes do Cristianismo. É lá do Egito que os Hebreus antigos forjam o mito do deus único sob a liderança de Moisés, uma figura historicamente misteriosa, pois tinha conhecimentos de magia aprendida nos templos, pois era filho adotado da filha do Faraó. Foi esse deserdado do trono, dos Faraós do Egito, que reuniu as tradições orais e escritas, desde o caldeu Abrão, e escreveu em forma linear, desde a criação do mundo até a êxodo do Egito, os fundamentos das três grandes religiões do monoteísmo: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. Moisés inventou um Deus prático, sem forma e sem nome, “é, o que é” e acabou a história. O resto e seguir um corpo de sacerdotes e praticas religiosas, pagar o dízimo, guardar o sábado, muito prático para um povo também prático e racionalista, bem sucedidos no mercado financeiro contemporâneo. Para os mercenários da fé, e os sacerdotes da religião do Império Romano desaparecido, Deus Pessoal, Homem-Deus ou Filho de Deus, e Deus Absoluto, e tudo a mesma coisa, a divindade suprema. Adorar um homem como Deus não é novidade, nem invenção dos romanos. Dizer que Deus se comunica com os profetas e protege um povo eleito em particular, escolhido desde o caldeu Abrão, também não é uma invenção dos Hebreus, pois cada povo cultivava um ou vários deuses em particular. O assombroso de tudo isso é que adotamos a crença dos hebreus, via Cristianismo, satanizando outras crenças como malignas. Deixamos de lado a cultura religiosa dos povos da Europa, do continente Americano e da África, que foram doutrinados pelos sacerdotes de Roma. Para piorar as coisas, a Reforma provocada por Lutero, Calvino e outros, a partir da Alemanha, quando o capitalismo começava surgir como um modelo dominante, em plena acumulação do capital, o Cristianismo Romano virou um Cristianismo “Evangélico”, com ofertas para todos os gostos. Todas as contradições permanecem com a diferença que não aceitam a autoridade de um Papa e padres celibatários.
Permanece a mesma idéia do cordeiro sacrificado num ritual para salvar ou ajudar, ou obter um favor de um deus, vinda lá da Antiguidade, da mesopotâmia. Assim, Deus enviou seu único filho para ser morto em sacrifício pelos homens para salvar a humanidade dos seus pecados, descer aos infernos, como fez o grego Orfeu, para libertar os justos, ressuscitou como o Deus egípcio Osíris, e subir aos céus, como fez o profeta Elias. Eis aí, o culto do Homem-Deus Jesus, que deveria ter mantido de pé o Império Romano. O primeiro fracasso do Cristianismo foi a fim do Império Romano, e segundo, não ter acabado com as guerras entre povos que se dizem cristãos, não evitando duas grandes guerras mundiais e a ganância de um burguesia insaciável.
Mas as pessoas acreditam, como os egípcios, em homens divinizados, adorando um homem como Filho de Deus. Também isso não é original, pois Krishina dos hindus foi a Personalidade de Deus vivendo como homem na Terra, morre e volta para o mundo dos deuses. Como isso se tornou possível?
Por conta das contradições, um exército de ateus cresce a cada dia no mundo Ocidental, com justa razão. Os primeiros a discordar do Deus único de Moisés, foram exatamente as pessoas que viveram na época de Jesus, o mesmo que foi transformado em Deus pelos romanos. Talvez pelo encontro de várias culturas, egípcia, grega, romana, e claro, os judeus, a grande biblioteca de Alexandria, um caldeirão cultural. A partir daí, surgem historicamente cruzamentos de associações de idéias entre gregos e judeus, e grupos dissidentes do judaísmo. Aparecem os gnósticos, que buscam um conhecimento interior e um Deus, também interior. O Deus criador do Jardim do Éden, construtor e grande arquiteto do universo, é identificado como um Demiurgo sombrio e cego, que demonstra um desprezo pelos humanos expulsando Adão do “paraíso”, por desobediência, e afogando seus descendentes num dilúvio, talvez pelo mesmo motivo. Com seu grupo de Elohims andróginos, nega a existência de outros deuses diante dele, é egoísta, vingativo e cruel.
Assim, os gnósticos do passado rejeitaram a doutrina do Deus criador, o Demiurgo de Moisés. Cultivam a idéia de um Cristo oculto e interior, um deus interior em cada ser humano, capaz de revelar um mundo interior, e isso era a “boa nova”, a grande notícia, a grande sacada. Mas os gnósticos e todos os dissidentes do Cristianismo romano foram perseguidos, suprimidos e seus evangelhos queimados.
No afinal das contas, todos somos todos Filhos de Deus, do Absoluto. Jesus vivia repetindo isso, de ser Filho de Deus, e foi literalmente incompreendido e o erro virou dogma. O Cristo, deixou de ser para os gnósticos, um enviado dos céus para libertar um insignificante povo do planeta, a Judéia dominada pelo Império Romano, mas um Deus oculto, adormecido e presente, uma descoberta interior das pessoas, que as libertariam da inconsciência, do esquecimento do que somos realmente. O Cristianismo Romano é um grande equivoco. Até a vida pessoal de Jesus foi interpretada de acordo com os interesses do culto romano, ignorando coisas do tipo onde foi enterrado, esposa e filhos, etc.
E os ateus contemporâneos? Se orientam pelo puro racionalismo, e não buscam outra alternativa, como dizia o grego Sócrates: “Conhece a ti Mesmo”. A maioria deixa o ateísmo no momento da dor. Afinal, o tetos dos templos desabam sobre os fiéis, e os padres e os pastores evangélicos são assaltados e as vezes assassinados, apesar de contarem com a proteção divina.
Mas, sob a ótica da razão, um Deus plantando um Jardim para cultivar plantas e animais, entre eles os seres humanos, ainda em minoria, podemos concluir que somos apenas comida. Não é isso que fazemos nas fazendas, domesticar animais escravizados para o abate, para alimento? Que tipo de comida? Ta maluco Cara Pálida! Produzimos algum tipo de emanação especial que alimenta o planeta e o Universo, senão seríamos criaturas completamente inúteis no universo.
Mas não temos nada em troca? Embora não dando nada em troca para os animais que devoramos, o Absoluto deve ser mais generoso. Eis algumas alternativas vindas de outras culturas religiosas:
Para os antigos Hindus, estamos presos numa cadeia de renascimentos, independente da forma. Buda, anterior a Jesus, também pregou a descoberta interior como um prêmio, uma libertação da forma humana.
No interessante livro de Carlos Casteneda, “O Presente da Águia”, as crenças religiosas dos toltecas definiam o Absoluto, para nós, Deus, como uma Grande Águia universal produzindo emanações, o universo e os seres. Nós, seres humanos, no final das contas retornamos como emanações para ser absorvidos pela Águia, que reserva um presente para os guerreiros que conseguem forjar um conhecimento: escapar de ser devorado. Talvez os cristãos de hoje acreditem no mito da “salvação” dessa forma, isto, ser devorado nas chamas do Inferno, ou escapar para o céu.
Mas não é preciso ir tão longe para encontrar um conhecimento revelador. Aqui mesmo no Brasil, a tribo Tupi-Guarani dos Araweté, estudada pelo antropólogo Eduardo Viveiro de Castro, numa obra publicada em 1986, “ARAWETÉ os deuses Canibais”, relata o seguinte:
“Os Arawete dizem que as almas de seus mortos, uma vez chegadas ao céu, são mortas e devoradas pêlos Maí, os deuses, que em seguida as ressuscitam, a partir dos ossos; elas então se tornam como os deuses, imortais.”, página 22.
Para os alquimistas da Idade Média, o universo é autofágico, isto é, devora a si mesmo. Essa simbiose é demonstrada na última ceia, num simbólico ato de antropofagia, onde Jesus diz que o pão é sua carne e o vinho seu sangue, convidando todos a comer do seu corpo. Ironicamente, esse ritual não foi copiado pelos dissidentes do Cristianismo Católico.





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